sábado, 2 de maio de 2009




O meu avô tem agora 67. Contou-me que embarcou para Angola, em 28 de Maio de 1965, e regressou à Metrópole, em 24 de Junho de 1967, no paquete VERA CRUZ.
“Foi difícil ir para Angola, já com 16 meses de tropa em Portugal. Em Angola, estive na cidade de Luanda, no centro de concentração das forças armadas do GRAFANIL. Um mês depois, fomos destacados para a zona norte de Angola. Aí, éramos chamados constantemente para as matas, para guardar os colonos. Sofríamos muitos ataques dos inimigos, que tratávamos por ‘Turras’.
Escondíamo-nos nas matas e, quando tínhamos sede, bebíamos água dos poços, deitando sempre um comprimido para desinfectar a água. Para mim, o que me custava mais era ter que ir fazer necessidades, mesmo de noite, e ter que chamar os amigos para me guardar, porque podia ser atacado.
Um dia, ia uma coluna de militares e rebentou uma mina. Aconteceu quando eu ia a passar. Fiquei ferido no pescoço e três dos meus colegas morreram de imediato. Fui evacuado para Luanda. Os hospitais não tinham boas condições, mas mesmo assim consegui recuperar do ferimento.
Em combate, na mata, ao fugir do inimigo, caí e bati com a arma nos dentes e parti-os. Lembro-me ainda que ia para o mato e ficava sempre para trás, para deitar fogo às cubatas, ficando assim conhecido na tropa como o “queima- cubatas”.
Um dia, depois da comissão terminada, outro batalhão foi-nos render e o comandante pediu se havia um grupo de voluntários para ir ensinar os sítios mais difíceis nas serras onde os “Turras” estavam. Fomos atacados por eles, enquanto mostrávamos os sítios difíceis, tendo-nos valido a aviação para nos salvar.
Também não esqueço os bons momentos que passei à espera do paquete para voltar para Portugal.”



“Cubatas”

Catarina Neves